Todos os dias são novas oportunidades para o recomeço. O recomeço de uma etapa, o recomeço de uma nova forma de estar e de ser, o recomeço da vida. É um pensamento feliz este, o recomeçar de algo; o nascer do Sol que vem acompanhado do amanhã, repleto de chances de reiniciarmos tudo. Contudo, este pensamento ficará preso dentro da nossa mente se estivermos sempre com pressa do amanhã e o reinício que ele nos proporciona, sem lutarmos pelo hoje.
Atualmente vivemos a um ritmo frenético e incessante, a vida moderna assim o exige, numa ânsia crescente pelo dia amanhã, pela novidade que o futuro nos reserva e esperando que seja melhor que o novo de hoje. A rapidez com que hoje em dia se cria, se transmite e atualiza a informação, proporciona a importância e o anseio que temos no futuro. Tome-se como exemplo a seguinte questão: tendo em conta o seu presente, se pudesse, de alguma forma e sem nada em troca, saber onde, como, com quem e o que estaria a fazer daqui a 10 anos, quereria saber?
Vamos analisar cada elemento a ter em conta nesta pergunta: o presente é uma rotina. A maior parte de nós está ocupado das nove da manhã às sete da tarde nos dias úteis, a fazer as nossas atividades profissionais. Chegamos a casa e a lengalenga que todos os nossos pais nos ensinaram desde pequenos “Comer, banho, chichi e cama!” nunca fez tanto sentido. Resta-nos pouca energia depois de um dia inteiro de um lado para o outro e também não há horas produtivas suficientes num dia para fazermos mais do que isto. E isto repete-se, cinco vezes por semana. Os outros dois dias são a melhor parte da nossa rotina semanal e aqueles com que estamos toda a semana a desejar que cheguem depressa: estar um pouquinho de tempo com a família, mais um tempinho com os nossos amigos, descansar e se calhar no domingo à noite adiantar alguma coisa que seja preciso para segunda de manhã. E reinicia-se o ciclo. Durante um mês, um ano, uma vida, se quisermos viver na passividade que achamos que não pode ser alterada no presente, só no amanhã, no futuro.
«Se de alguma forma e sem nada em troca fosse possível ver o futuro?» Perante o presente habitual, não tenho nada a perder, então porque haveria de recusar? A curiosidade é um desejo intrínseco a cada ser humano como forma de explorar mais sobre si e sobre o que o rodeia; é ela que nos move todos os dias a procurar saber mais e expandir os nossos conhecimentos. O facto de termos uma pergunta que nos desperte a curiosidade na fase de adultos é até um desafio para nós, que deixamos a fase dos porquês na infância. Por isso, revela-se intrigante saber a resposta a esta pergunta que nos deixa curiosos com o devir.
A resposta a esta pergunta será sempre um pau de dois bicos: o futuro pode agradar-nos e vamos trabalhar para que ele chegue o quanto antes, ou pode dececionar-nos e vivemos acorrentados ao vislumbre de um futuro tristonho sem poder fazer nada pois é o futuro que nos está reservado.
Todavia, após termos a nossa resposta, esquecemo-nos de algo que aceitamos passivamente e desinteressadamente na análise da nossa pergunta: o presente. Aquele presente que nós não usufruímos porque só estávamos a pensar no dia depois de hoje. Aquele presente que menosprezamos constantemente porque só o amanhã é que serve para o recomeço. Aquele presente que vivemos absortos das oportunidades que ele nos oferece. E só depende deste presente a resposta à nossa pergunta, só do presente depende o nosso futuro.
E quando nos apercebemos desse presente desprezado, apercebemo-nos dos reinícios perdidos, dos momentos acelerados, das atitudes precipitadas, o rótulo de data de validade que colocamos para cada dia que vivemos como se se limitassem a apenas isso, a dias que servem para “acrescentar palha” à nossa vida, mas que na verdade são a resposta ao nosso futuro, que construímos todos os dias, o futuro pelo qual temos tanta pressa que chegue.
A busca do nosso final perfeito de vida não se encontra no destino, mas sim na viagem. A pressa é inimiga da perfeição e no entanto, vivemos todos os dias esquecendo e ignorando o passado, alheios e indiferentes em relação ao presente, apressados e impacientes com o futuro, sem nos apercebermos de que é a nossa pressa que nos vai impedir de atingirmos a satisfação e a felicidade plena no fim dos nossos dias. É como Jim Brown uma vez disse:
“Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido.”
Daniela Tomás